Mais uma cena, people!

quarta-feira, 19 de agosto de 2009
(Ator 1 está sentado. Ator 2 entra.)
ATOR 1 - Você.
ATOR 2 - Acho que eu não devia estar aqui.
ATOR 1 - Você sabe que aqui será sempre bem-vindo.
ATOR 2 - Não, eu não posso...
ATOR 1 - Diga o que procura.
ATOR 2 - Eu não sei, eu... não deveria ter vindo.
ATOR 1 - Mas veio.
ATOR 2 - Esqueça! Vou embora!
ATOR 1 - Você não vai! Você sabe que não vai...
ATOR 2 - Por que você fala com toda essa certeza?
ATOR 1 - Porque eu te conheço.
ATOR 2 - Não, não conhece...
ATOR 1 - Eu sabia que mais cedo ou mais tarde você apareceria.
ATOR 2 - Talvez eu tenha mudado de idéia e seja melhor eu voltar para onde estava.
ATOR 1 - Onde você estava?
ATOR 2 - Por aí...
ATOR 1 - Imaginei.
ATOR 2 - Suas deduções me irritam.
ATOR 1 - Eu te irrito?
ATOR 2 - Sim, irrita.
ATOR 1 - Se te irrito, por que veio?
ATOR 2 - Não sei... Talvez eu não tenha com quem conversar.
ATOR 1 - Estou aqui para isso. Sente-se.
ATOR 2 (senta-se e levanta-se em seguida) - Eu preciso fazer uma coisa antes...
ATOR 1 - E o que é?
ATOR 2 - Deixa pra lá... Conhece aquela sensação de que está esquecendo algo, mas não sabe ao certo o quê?
ATOR 1 - Sim, todos passam por isso em alguns momentos.
ATOR 2 - É... (sentando-se) Bom, mas talvez não haja problema em conversarmos um pouco enquanto isso, né?
ATOR 1 - Absolutamente.
ATOR 2 - Seu rosto me é familiar...
ATOR 1 - Você também é familiar...
ATOR 2 - Que educação a minha! Perdão. Meu nome é Arnaldo.
ATOR 1 - Prazer Arnaldo, me chamo Rosa.
ATOR 2 - Muito prazer. Até que gosto do seu jeito, dona Rosa, mesmo sendo irritante.
ATOR 1 - Sei disso.
ATOR 2 - Sabe dona Rosa, vou te contar um fato curioso: agora há pouco recebi a visita de um casal. Diziam ser meus filhos... Como podem deixar pessoas assim entrarem aqui? Há tanta gente doida neste mundo, dona Rosa, ouça o que digo... Me contaram uma história maluca de que sofro de uma doença que afeta a memória. O tal do mal de Alzheimer que andam citando no jornal. Onde já se viu? Acham que eu vou cair nesse golpe... Não, eu não! Jamais caio na ladainha de gente estranha...
ATOR 1 - Ladainha?
ATOR 2 - Ah, dona Rosa. Os golpistas de hoje são muito espertos! Disseram ainda que eu tinha netos! Hahaha! Eu? Netos? Essa é boa! E ainda por cima disseram que minha esposa estava aqui também, nesta clínica de repouso... Começaram a falar que ela estava mais perto de mim do que eu imaginava, que converso com ela a todo instante mas que não me recordo quem ela é.
ATOR 1 - O que mais disseram?
ATOR 2 - Mais nada!
ATOR 1 - Nada? Não te falaram o nome dessa sua esposa?
ATOR 2 - E eu nem deixei! Chamei logo o segurança para tirar aqueles golpistas da minha frente! E não é que eles acharam que eu ia cair nessa?
ATOR 1 - E não disseram mais nada?
ATOR 2 - Falaram mais algumas bobagens de que ontem eu tinha aceitado melhor e que voltariam amanhã... Nem dei mais atenção.
ATOR 1 (baixo) - Amanhã eles voltam...
ATOR 2 - Ih dona Rosa, até você falando isso? Não se preocupa não, ninguém vai permitir que aqueles impostores entrem novamente...
ATOR 1 - É...
ATOR 2 - Já pensou, dona Rosa? Se eles aparecessem por aqui e te falassem que você tem um marido mais perto do que imagina? História de doido...
ATOR 1 - Eu tenho, Arnaldo. Tenho um marido por perto.
ATOR 2 - E onde está ele?
ATOR 1 - Digamos que ao meu lado. Mas talvez ele não saiba disso.
ATOR 2 - A senhora também vai começar com esse papo de gente doida? Bom, acho melhor eu voltar para onde estava, preciso lembrar o que preciso fazer.
ATOR 1 - Até logo!
ATOR 2 - Até logo nada, dona Rosa. Estou meio desconfiado da senhora. Você fala tão estranho quanto aquele casal que saiu daqui... Vá conversar com seu marido, porque aqui eu não volto mais não.
ATOR 1 (emocionada) - Você volta...
(ATOR 2 SAI)
ATOR 1 - Você sempre volta!

*Inspirada na música "Sutilmente - Skank", imaginei um casal de velhos em uma espécie de asilo. Ator 1 seria a esposa, e Ator 2 o esposo. Ele sofre de algum tipo de doença de memória, provavelmente o mal de Alzheimer. E a cena seria mais ou menos o que acontece diariamente neste asilo. Achei melhor não explicar antes pra cada um viajar e imaginar o que quiser... Espero que gostem! Boa noite e até sabadão!

Beijoo =*

7 comentários:

Laura Amaral disse...

Ai Taty, gostei muito, fiuei arrepiada!!!!

Gostei...

Beijos

Lucas Gurgel disse...

Adorei Tati. Sério, gstei msm. É de um sutileza... Uma coisa leve e bonita. Assim tão leve qe pode passar tanto o drama da situação como um doce humor gostoso e a beleza do sentimento (do amor da senhora e a aceitação passiva dela). Nã Sei. Sei lá mais o que comentar. Achei bonito. Uma cena de amor puro, doce, de velhos (porém não propriamente gasto), uma coisa até de doação e uma situação tão triste ao msm tepo.................

Bom, até sábado galera...
E gostei disso. Postar cenas. Não sei o que pode nos trazer e como... Mas tenho uma boa sensação quanto a isso... Tô gostando de ler e me sentindo motivado a escrever. Sabe, não sou de escrever (rsrsrs), mas tá me dando uma vontade.............. E além do mais, ultimmente tnho lido muitas coisas legais de pessoas queridas. Coisas ótimas.

(obrigado por me despertarem essa vontade de escrever - e devo isso a outras pessoas tamém, mas não vêm a caso - sério. Muito obrigado mesmo. E agora ésó esperar que essa vontade traga bons frutos)

Bjo a tds
saudades

Varlei Xavier disse...

Bonito, fofo, doce! Adorei.

Muito bom gente!

Postem tudo que quiserem!

.:: Roberta Conde ::. disse...

É lindo!
Doce demais! De se encher os olhos!

Grande beijoooooo!

Fábio Freitas disse...

Gostei Taty. Não pensei que fosse um asilo de início...Conheço essa música Skank! Mas me lembrou muito o enredo de "Diário de uma paixão". Deve ter se inspirado lá tb né? Pelo menos, me lembrou!

Ai gente, escreve tb, adoro isso!

Bjs a todos!

Aline de Paula disse...

Linda amiga!!!Cena linda demais, comovente de fato.
Leve e pesada, seria cômica se não fosse dramática...
Ótima!!!
Beijo

Anônimo disse...

taty maravilhoso demais....parabéns.bjos até sábado

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